17 junho 2009

Imagem e Representação (2)


Dietrich Bonhoeffer participou do movimento de resistência alemã contra o nazismo, sendo preso por isto. Na prisão, exerceu grande influência sobre seus companheiros com sua coragem e postura serena. Dois anos depois foi executado. O médico da prisão que assistiu ao seu enforcamento escreveu sobre o dia:
“Eu vi o pastor Bonhoeffer .... ajoelhado no chão orando de maneira intensa a Deus. Fiquei profundamente impressionado pela maneira como este amoroso homem orava, tão devoto e tão certo de que Deus ouvia sua oração. No lugar da execução, ele fez uma curta prece, e então galgou os poucos degraus até o local, corajoso e controlado. Sua morte aconteceu em poucos segundos. Nos cinquenta anos que trabalhei como médico, raramente vi um homem que morreu como ele, tão inteiramente submisso à vontade de Deus.”

Apesar da avaliação externa positiva, ele tinha consciência do perigo da imagem e representação que poderia se imiscuir no meio de boas intenções, enganando a todos e a si mesmo. A luta, e a solução que ele encontrou, estão num poema escrito por ele na prisão, em 1944:

Quem sou eu?

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que saio da minha cela
tão sereno, alegre e firme
qual dono de um castelo.

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que da maneira como falo
aos guardas, tão livremente,
como amigo e com clareza
parece que esteja mandando.

Quem sou eu? Também me dizem
que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e com orgulho
como um que se acostumou a vencer.

Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
como um passarinho na gaiola,
sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.
Sedento por palavras boas, por proximidade humana,
tremendo de ira a respeito da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
nervoso na espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante os homens um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
seja como um exército em derradeira fuga,
à vista da vitória já ganha?
Quem sou eu?
A própria pergunta nesta solidão,
de mim parece pretender zombar.
Quem quer que eu seja,
tu me conheces, oh, meu Deus,
SOU TEU.

Um comentário:

  1. Quem sou eu a não ser a começar nascer nos olhos dos outros?
    Um grande Outro é definitivo para aqueles que acreditam nEle.
    Filosofico e inspirador!

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