11 junho 2009

Choque de culturas



Eu estava encarregado de ciceronear a senhora chinesa recém chegada. Preocupado em lhe dar conforto e ao mesmo tempo proporcionar contato com o país que vivemos, planejei levá-la a um restaurante que me parecia oferecer uma boa comida brasileira que não fizesse mal ao seu corpo frágil.

O problema era o ambiente do restaurante. Embora estivesse em um entorno privilegiado, com vista para uma magnífica montanha, a aparência do restaurante era bem rústica. As paredes, pintadas a cal, apresentavam irregularidades no acabamento, mesmo vistas à luz fraca que saía com custo das lâmpadas nuas que se esgueiravam penduradas do teto alto. As mesas de madeira, cobertas com um plástico transparente, oscilavam incertas como se ao sabor de ondas.

Maior problema ainda era a entrada para o restaurante. Precisando atender a dois públicos no mesmo endereço, o dono instalou um bar de cidade pequena na parte da frente do restaurante, o balcão do refrigerador, com o vidro suado, servindo também de mesa para os frequentadores simples da cidade.

Procurando amortizar o possível choque de minha visitante internacional, enquanto deslizávamos pela estrada sinuosa, disse em tom de desculpa que o local era muito simples, mas com boa vista e com uma gostosa refeição brasileira.

Sua reação me causou espanto. No inglês cantado pelo sotaque, comentou, como que contemplando um perfeito por de sol: "para a cultura chinesa, as características do local que você descreve soam poéticas: um local simples, com boa vista e uma refeição gostosa. Isto é muito poético!" - enfatizou.

Os elementos do ambiente do restaurante que para mim pareciam viver em tensão conflituosa, para ela era uma tríade harmônica que descrevia um lugar perfeito. Para ela, o simples era virtude.

Um choque de cultura. Não pela chinesa, mas sim pela minha, envergonhado que fiquei por descobrir nela valores suspeitos.

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