25 junho 2009

A folha de bananeira



"O local era um sítio, com algum verde. Depois de algumas orientações, nos separamos e ficamos por duas horas isolados.

Fiquei na parte elevada, só olhando a paisagem e meditando.

Aos poucos fui percebendo o movimento da natureza: calmo, mas vivo e cheio de detalhes. Ela tem seu ritmo, como uma melodia tranquila, e nos leva à contemplação e reflexão.

No local havia muitas bananeiras. Vendo de longe uma delas, percebi que somente uma folha fazia ondulações em meio à paisagem estática. Deduzi que soprava uma leve brisa sobre ela.

Então me veio à lembrança o trecho de Elias na caverna, onde Deus não estava no vento fortíssimo, no terremoto, nem no fogo, mas na brisa (1 Reis 19:11,12). E me veio um ensinamento: assim como a brisa toca somente a folha, assim também eu trato com você de maneira particular. Não se preocupe com os outros: eu estou cuidando de você."

O texto acima é parte do relato por e-mail que fiz à minha amiga sobre o insight que tive olhando aquela paisagem bucólica. Naquela época havia acabado de voltar de uma viagem longa ao exterior e enfrentava um momento difícil no trabalho. Cansado pelos compromissos, interpretei que seria cuidado de maneira singular, apesar do ar rarefeito que respirava no momento.

Mas então minha mãe faleceu três meses depois, deixando uma surpreendente lacuna em minha vida.

A lembrança da experiência e a atualização do significado daquela folha de bananeira ondulando ao sabor da brisa suave vieram através do calendário em formato triangular que minha amiga fez para mim no começo deste ano. Em uma face, os dias do ano, e em outro, o texto e a foto que reproduzo acima.

Ao reler o texto quase esquecido que havia mandado para ela e que agora recebia de volta, entendi então que, como profecia de duplo cumprimento, o significado do insight que havia tido naquele dia não falava somente generalidades sobre o cuidado e proteção de Deus no momento profissional que vivia. O significado mais profundo era que Ele cuidaria de mim de maneira especial, durante e após a partida de minha mãe.

Minha amiga tinha pressa para me entregar o calendário, já que, segundo ela, era um presente de duração limitada.

Não penso assim. Colocado sobre a mesa do escritório, com a face do texto voltada para mim, ele é um memorial a ser guardado para toda vida.

24 junho 2009

Presente perfeito


A doença de sua mãe, dizia, tinha chegado em nível terminal, depois de anos de intensa batalha. As dores, como ondas gigantescas, chegavam insuportáveis nos momentos de pico, mas nem a aplicação de morfina parecia ajudar muito.

Ela, que por formação e personalidade sabia chegar fácil a um estado de resignação, nem por isto deixava de sofrer. Era uma dor de difícil localização e origem, marcando corpo e alma pelas horas insones ao lado de sua mãe, achando fantasmas de culpa por se sentir impotente em aliviar o sofrimento, estupefata pela inversão de papéis nos últimos dias entre elas. Não é a mãe que sempre deve oferecer colo para a filha?

Enquanto ouvia seu relato transbordante de emoções contidas, sentia dentro de mim cordas de um violão reverberando sozinhas, chamando lembranças profundas da partida de minha mãe, apenas meio ano atrás, por causa da mesma doença.

Por já ter vivido isto, o desdobramento da história me parecia um horizonte já visto, mesmo sabendo que cada por de sol é único. Achando pontos de identificação no que dizia, imaginei que talvez pudesse dividir um pouco com ela este momento difícil, em orações e escuta atenta.

Mas havia outro motivo por que me sentia ligado a esta história de luta contra a doença . Quando falava sobre a situação de sua mãe, o fazia com tanto carinho e consideração que fazia-me sentir estar ouvindo a história de uma pessoa importante, digna de todo meu respeito e atenção.

E então veio a notícia inevitável, prevista e surpreendente, que me fez desmarcar compromissos inadiáveis para me despedir daquela que nunca havia tido oportunidade de conhecer.

No velório, uma multidão de gente que parecia dizer com sua presença que estavam lá acima de tudo por causa deles mesmos, pelo sentimento de perda que cada um tinha, pelas lágrimas derramadas pela dor que vinha não de fora deles, mas de dentro de cada um. Não era demonstração apenas de solidariedade, mas de luto pessoal.

As duas irmãs estavam postadas nos lados da mãe, guardiãs protetoras de seu descanso. Suas mãos deslizavam de maneira suave sobre o rosto, num embalo de ninar, como que tocando um bem precioso.

Chegara a hora. No silêncio profundo da despedida, quando palavras são frágeis demais para carregar intensos sentimentos, sonoros estalos, longos e dedicados. Prolongados beijinhos, gordos de carinho, cobriam as duas faces da mãe , como que fazendo consolo a um bebê ferido.

Naquele momento entendi qual é o último presente que gostaria de ganhar na minha vida.

17 junho 2009

Imagem e Representação (2)


Dietrich Bonhoeffer participou do movimento de resistência alemã contra o nazismo, sendo preso por isto. Na prisão, exerceu grande influência sobre seus companheiros com sua coragem e postura serena. Dois anos depois foi executado. O médico da prisão que assistiu ao seu enforcamento escreveu sobre o dia:
“Eu vi o pastor Bonhoeffer .... ajoelhado no chão orando de maneira intensa a Deus. Fiquei profundamente impressionado pela maneira como este amoroso homem orava, tão devoto e tão certo de que Deus ouvia sua oração. No lugar da execução, ele fez uma curta prece, e então galgou os poucos degraus até o local, corajoso e controlado. Sua morte aconteceu em poucos segundos. Nos cinquenta anos que trabalhei como médico, raramente vi um homem que morreu como ele, tão inteiramente submisso à vontade de Deus.”

Apesar da avaliação externa positiva, ele tinha consciência do perigo da imagem e representação que poderia se imiscuir no meio de boas intenções, enganando a todos e a si mesmo. A luta, e a solução que ele encontrou, estão num poema escrito por ele na prisão, em 1944:

Quem sou eu?

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que saio da minha cela
tão sereno, alegre e firme
qual dono de um castelo.

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que da maneira como falo
aos guardas, tão livremente,
como amigo e com clareza
parece que esteja mandando.

Quem sou eu? Também me dizem
que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e com orgulho
como um que se acostumou a vencer.

Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
como um passarinho na gaiola,
sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.
Sedento por palavras boas, por proximidade humana,
tremendo de ira a respeito da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
nervoso na espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante os homens um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
seja como um exército em derradeira fuga,
à vista da vitória já ganha?
Quem sou eu?
A própria pergunta nesta solidão,
de mim parece pretender zombar.
Quem quer que eu seja,
tu me conheces, oh, meu Deus,
SOU TEU.

Imagem e Representação


Enquanto decidia fazer o blog, fui encorajado por minha amiga a tomar alguns cuidados na postagem: nunca escrever deprimido, não revelar os personagens deste meu universo, ter uma identidade específica. A primeira regra é uma questão de educação (ninguém merece: o melhor amigo, o ilustre desconhecido virtual, e talvez nem mesmo papai e mamãe). A segunda pode ser motivada pelo respeito à privacidade (minha e dos que me cercam). A terceira visa procurar garantir um perfil estável a quem acessa.

Mais ou menos assim?

Talvez mais do que assim.

A experiência de postar tem me levado a questionar sobre o quanto de mim aparece para as pessoas que me cercam. Quando me apresento a elas, sou eu mesmo, ou um produto?

Tomando uma pequena luz que talvez me ajude nesta expedição nas complicadas profundezas interiores, por estes dias comecei a fazer uma endoscopia de alma através de duas palavras: imagem e representação.

A representação, no uso das artes cênicas, é o ofício de interpretar papéis dentro do palco. Uma qualidade de um bom ator seria a capacidade de ser convincente, isto é, a habilidade de ocultar seu verdadeiro ser por trás do papel que atua, de tal maneira que quem assiste confunde o personagem com o ator. Outra qualidade seria a versatilidade. Entre uma peça e outra, ele não troca somente de roupa, mas despe-se do personagem antigo e reveste-se de outro, transmutando-se.

A imagem, deixando de lado a definição filosófica e usando-a nos termos do senso comum atual, seria a aparência escolhida para ser vista pelos demais. Um ângulo, geralmente o mais favorável, um personagem dentre os muitos que habitam em cada um de nós, de acordo com a ocasião e conveniência do momento.

Claro que nem sempre as distinções que fazemos no mundo das letras correspondem ao intrincado mundo das coisas de fato. A representação sempre carrega o personagem, e a imagem captada pode ser um embuste com selo falsificado de autenticidade.

Procurando levantar camadas que se sobrepõe como feixes entrelaçados sobre mim, me esforço por apresentar aqui uma de minhas imagens. Ela é parcial, mas espero que ainda assim verdadeira. Gostaria de nunca postar uma representação minha. Não teria sentido, e seria, para mim, uma espécie de morte.

16 junho 2009

Mistheres

O que existe de comum em todas as mulheres? A capacidade de sacrificar-se, segundo o filme Caramelo. De produção franco-libanesa, tem como cenário um salão de beleza. Lá, aplica-se caramelo na pele para a depilação das mulheres daquele país. Indicação rápida do que acontece nas histórias das mulheres do filme: uma mistura de doçura e dor.

Personagens trabalham com a questão do sacrifício do amor em suas vidas: renúncia pela irmã doente, luta até o limite da possibilidade, conformação aos padrões da sociedade para não perdê-lo. O ícone delas é Maria, na versão católica, desfilando em procissão pelas ruas cheias de sol.

Um mundo misterioso se apresenta para mim neste filme. E nem tanto a Beirute que desconhecia, cidade que parece estar na fronteira entre dois mundos, com costumes que atribuímos serem árabes e com devoção religiosa e fenótipos ocidentais.

Quem sabe preciso fazer uma viagem até lá para conhecer de perto este interessante povo. Mas para o mistério profundo do filme, as mulheres, creio que não há viagem que se possa fazer para desvendar este segredo.

Elas são o grande enigma apresentado no filme. Com sua beleza, complexidade e diferença em relação ao homem elas serão sempre um mistério para nós. Mulher como sinônimo de mistério. Ou para compactar, mistheres.

13 junho 2009

Dia dos Namorados

Um ponto de interrogação espanhol fisga meus pensamentos e me coloca em pé logo cedo. "O que se faz no dia dos namorados?"

Sexo, muito sexo. Caprichado, criativo, ousado, ardente, de marcar na pele e na alma as marcas do amor. Os namorados também dão presentes caros e jantam em restaurantes finos, mas principalmente fazem sexo, sendo as demais coisas apenas acessórios de uma boa transa. Indispensáveis, dizem, mas acessórios.

Pelo menos é que vejo nas mensagens que procuram passar sobre a data. "Dê este presente e ganhe de sua namorada uma noite ardente". "Use este vestido, e seu namorado não resistirá aos seus encantos". "Jante em nosso restaurante. A sobremesa você ganhará de sua namorada". Sexo no Dia dos Namorados é o Papai Noel no Natal na ótica do marketing.

Feriadão, estou em modo de espera. Navego sem pressa por páginas de amenidades e me deparo, espantado, com a cara da atriz. Apesar dos liftings e outras prováveis intervenções cirúrgicas, ela me parece muito envelhecida. A imagem sexy já não consegue ser sustentada. Fazia tempo que não tinha notícias dela, e agora entendo o por que.

De noite, assisto distraído ao Two and a Half Men. Para variar, no quarto do Charlie está a mulher do outro. O marido, um ricaço, descobre o caso e Charlie precisa passar a lábia nele. Para isto, usa como estratégia dar atenção. O velho desabafa. No passado, havia sido como ele e se dado bem. Velho, pensou que poderia preservar o estado de felicidade que um bom sexo proporciona e por isto casou-se com uma mulher jovem. O que ele não havia percebido é que os tempos (e seu corpo) são outros. Dá conselhos ao garanhão para que mude o eixo de sua vida. Uma pitada de reflexão num seriado cujo único compromisso é fazer rir.

Na madrugada, uma charada insiste em esconder meu sono:
fato 1: A necessidade básica do ser humano é o amor.
fato 2: O sexo pode ser uma expressão forte de amor, porque exige tudo de nós: mente e alma, passando pelo corpo.
fato 3: Desejamos ser amados até à morte.
fato 4: O sexo é efêmero.

O círculo não se fecha.

O sono vai chegando manso enquanto devaneio o que vou querer receber no próximo Dia dos Namorados.

12 junho 2009

Lição das alturas




O carro gemia, cansado pelo esforço de percorrer o íngreme caminho que dava acesso à vista. Da estrada asfaltada ao local de estacionamento na pedra, mil metros de altura e enormes sulcos na terra, ferida pelas chuvas e pelo descaso.

Preocupado em não deixar o carro sumir em algum buraco, dirigia resfolegante, o frio do clima batendo de frente com meu corpo molhado pela tensão.

Definitivamente, o passeio era para a visitante, mas não para mim. Nem por causa da dificuldade de acesso, ou da contabilização possível de prejuízo em meu carro, mas porque as promessas de resultado me pareciam pequenas.

O nome da pedra que subíamos de carro já parecia me dizer o que eu poderia esperar: Bauzinho. Como havia explicado para ela, "inho" em português era diminutivo, e à parte da boa gramática, neste caso "inho" também poderia ser um comparativo depreciativo, diante da grandiosidade que ficava ao seu lado.

Portanto, uma experiência menor me aguardaria, se comparada com a que vivi há poucos meses atrás na outra pedra, a do Baú. Naquele dia passei por um turbilhão de emoções. O medo inicial da subida na rocha nua, oscilante entre pernas trêmulas, o desafio físico e também mental de não poder desistir no meio do caminho, a chegada ao céu, entre nuvens, estufando alegria pela vitória alcançada.

Mas subir de carro na pedra menor não era propriamente uma aventura.

Descemos no estacionamento vazio em busca do curto caminho até o topo. A subida na pedra não era o motivo do passeio, diziam, mas sim a contemplação da vista, com o vale extenso embaixo e ao lado a personagem central, a grande pedra. A pequena pedra seria então uma espécie de admiradora da outra.

O vento cortante que atravessava como espada aguda nossos casacos parecia enviar mensagens de alerta para o que ocorreria em seguida. Um curto e fácil caminho, e estávamos diante da cena. Como que atacado de surpresa, não consegui falar nada, a não ser deixar escapar um oh!, maravilhado com o que via. Se adoração significa reconhecimento de superioridade, eu ali tinha meu momento de culto a Deus, que erigiu aquele monumento fantástico.

No retorno à estrada de asfalto, dirigi leve, o professor dentro de mim fazendo-me processar o aprendizado. Toda experiência, disse ele, oferece lições, desde que tenhamos a humildade de aceitá-las do jeito que elas chegam. No caso da grande pedra, aprendi a importância da determinação e esforço em busca de um objetivo. E me senti grande. Na pequena pedra, aprendi sobre a grandiosidade da contemplação passiva. E me senti feliz por ser pequeno.

11 junho 2009

Choque de culturas



Eu estava encarregado de ciceronear a senhora chinesa recém chegada. Preocupado em lhe dar conforto e ao mesmo tempo proporcionar contato com o país que vivemos, planejei levá-la a um restaurante que me parecia oferecer uma boa comida brasileira que não fizesse mal ao seu corpo frágil.

O problema era o ambiente do restaurante. Embora estivesse em um entorno privilegiado, com vista para uma magnífica montanha, a aparência do restaurante era bem rústica. As paredes, pintadas a cal, apresentavam irregularidades no acabamento, mesmo vistas à luz fraca que saía com custo das lâmpadas nuas que se esgueiravam penduradas do teto alto. As mesas de madeira, cobertas com um plástico transparente, oscilavam incertas como se ao sabor de ondas.

Maior problema ainda era a entrada para o restaurante. Precisando atender a dois públicos no mesmo endereço, o dono instalou um bar de cidade pequena na parte da frente do restaurante, o balcão do refrigerador, com o vidro suado, servindo também de mesa para os frequentadores simples da cidade.

Procurando amortizar o possível choque de minha visitante internacional, enquanto deslizávamos pela estrada sinuosa, disse em tom de desculpa que o local era muito simples, mas com boa vista e com uma gostosa refeição brasileira.

Sua reação me causou espanto. No inglês cantado pelo sotaque, comentou, como que contemplando um perfeito por de sol: "para a cultura chinesa, as características do local que você descreve soam poéticas: um local simples, com boa vista e uma refeição gostosa. Isto é muito poético!" - enfatizou.

Os elementos do ambiente do restaurante que para mim pareciam viver em tensão conflituosa, para ela era uma tríade harmônica que descrevia um lugar perfeito. Para ela, o simples era virtude.

Um choque de cultura. Não pela chinesa, mas sim pela minha, envergonhado que fiquei por descobrir nela valores suspeitos.

O Homem Hidropônico


Conversávamos sobre a questão do arrombamento do privado. A sociedade, como um predador, escolhe a presa que passa, a abate e expõe suas entranhas. Faz um trabalho de dissecação, e depois de consumí-la, descarta seus ossos.

A vítima corre porque sabe o perigo de ficar à mercê daquele que quer violar sua intimidade, o que pode significar a destruição de sua vida. Em sentido literal ou metafórico.

Mas existe uma relação ambígua com o predador. Um outro lado seu corre em direção oposta. O predador tem um poder magnetizante que a seduz, como se a entrega e exposição de seu ser inteiro possibilitasse um clímax de existência.

A conversa que mantínhamos sobre a tensão entre a necessidade de preservação e a de exposição de segredos era até então como entre deuses gregos, comentando em tom blasé as complexidades nem sempre harmônicas do ser humano.

Até que começamos a falar de blogs. E então percebemos que este dilema também era nosso. Ela já tinha, e eu pensava em ter. Parecia incoerente. Se protegemos com recato nosso mundo secreto, se cultivamos com cuidado as plantas que florescem em nosso pequeno mundo rarefeito, por que ter blogs?

Conseguimos chegar somente até este ponto. O assunto parecia precisar enveredar-se sobre complexos campos interdisciplinares de conhecimento que não temos domínio.

Hoje, quando decido escrever, continuo sem resposta às nossas indagações. A certeza que fica é apenas de uma sensação, que dá título ao post.

Sempre que pego um vegetal hidropônico, tenho uma sensação de constrangimento e talvez pena dele. Na minha fantasia antropomórfica, ele passou toda sua existência nu, as raízes brancas boiando na água cheia de nutrientes, as intimidades expostas sem segredos. Coloco-me em seu lugar e sinto vergonha por ele.

É com este sentimento que faço meu primeiro post. Talvez mais tarde me acostume com a idéia, e quem sabe até sinta prazer nisto. Mas se isto acontecer, é cura ou degradação?

A figura foi feita por minha amiga, a partir do que "imaginava que eu estava imaginando" quando disse que me sentia um homem hidropônico ao pensar em fazer este blog.